sábado, 23 de maio de 2009

Combustível auto-renovável e auto-inflamante

- Hoje durmo cedo! Amanhã é dia de novamente sair para enfrentar o Sistema…
?Será mesmo assim?
Parece que vamos deitar tarde e após horas desperdiçadas em polêmicas infindas. Sofismar para própria consciência. Convencer-se de que a luta é parte da batalha e que é pura ilusão querer resultado, mudança, quebra de sentido, alteração de modo. Acreditar que o dito Sistema pode ser vencido com as próprias armas. Imaginar que após a contribuição que reforça o opositor, com as sobras se pode fazer o embate. Concluir que o Sistema não começa dentro de cada um de nós.
?Será mesmo assim?
Todos reduzidos ao título de ‘trabalhador’. Onde estão os ofícios, as artes. Dizer-se Soldador é se saber um artífice, um conhecedor, um fazedor de algo. Dizer-se Motorista segue o mesmo caminho. Igualar ambos ao mesmo título de trabalhador é tirar o que de valor tem cada um e que está no conhecimento apreendido; soa como reduzir o indivíduo à sua serventia. Não trato apenas dos significados; falo da classificação através de um termo que se faz de atributo para um grupo demasiadamente grande. Aceitar-se simplificado pode ser o primeiro passo para o não enfrentamento e a aceitação das regras.
Se saio com a idéia de trabalho, talvez sirva para alimentar o Sistema. Se sou finito em mim, não o sou quando gero outro capaz de ser alimento. Me auto-renovo.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Estou sempre atrasado, mas os jornais também

Reparei que as notícias dos grandes jornais são sempre sobre fatos irreversíveis. Essa prática de anunciar o que já não tem volta não seria melhor para livros de história? Pergunto porque imaginei que jornais teriam também a utilidade de anunciar com estardalhaço ações que estão em processo.
Como exemplo utilizo o anúncio de que o governo ampliou o valor e a quantidade de trabalhadores que receberão o seguro-desemprego. Será que o governo fez isso como quem faz um repente? Uma medida que envolve tanto dinheiro e tanta gente não apareceu nos jornais antes de ser efetivada. Será que ficaram com medo de uma aceleração muito grande da economia?
Quando assuntos de interesse de muita gente com pouco poder de decisão são tratados por pouca gente com muito poder de mando, o tratamento recebido concentra-se nos meios de pequena circulação. Difícil encontrar um veículo poderoso de comunicação, como os jornais de televisão, tratando pelo menos com títulos chamativos estes temas.
É tão confuso entender estes mecanismos que eu já nem sei se é muita lentidão da mídia, se a produção de safadezas tem ritmo acelerado, ou se podemos somar os dois motivos. Talvez seja somente imaginação…

terça-feira, 19 de maio de 2009

Estou sempre atrasado, mas o governo também

Nosso presidente disse que os empresários estão tirando proveito da situação. Ele nos estimula perceber que as empresas optaram por diminuir os produtos em estoque quando da baixa anunciada de impostos para estímulo da economia. O governo tinha em mente que com a baixa os trabalhadores não seriam demitidos e, até possivelmente, contratados.
Nosso modelo de gestão do capital é baseado numa economia livre. O investidor quer lucro. Os empresários querem ganhar dinheiro. A carga tributária é elevada, pior ainda pelo serviço prestado à sociedade. É claro que um dono de empresa brasileiro primeiro vai garantir seu negócio, depois seu lucro, depois sua continuidade, depois a distribuição dos lucros para os sócios e investidores, depois a boa relação com os bancos para depois, ufa, pensar em funcionários.
Nós somos um país que possui uma cultura empresarial de especulação, de exaustão de recursos, de gestão amadora. O melhor que pode acontecer conosco é perceber nosso amadorismo e buscar mais prudência com os empreendimentos. Os empresários devem se dar conta que o dinheiro da empresa não é seu. O dinheiro que entra é primeiro para pagar as contas como salários, fornecedores, impostos e só no final de alguns períodos, geralmente de um ano, as sobras são dos proprietários. Para nossos empresários os Funcionários são uma Despesa. Despesas aqui no Brasil são amadoramente motivo somente para corte.
Se o governo não sabe disto, se não conhece a classe empresarial, que tipo de política aplica. Será que são tão inocentes assim?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

ser chato é uma arte

Há tanto tempo de dedicação de corpo e alma no desenvolvimento de um estado definitivo que estou no cume daquilo que posso nomear como monotonia monocórdia monológica. Por isso começo este texto com uma das coisas mais chatas que desenvolvi que é a autodescrição a partir de um momento individual e que aliás é um dos motes prefridos dos tratados de auto-ajuda.

Se fosse fácil fazer de um ser dinâmico um ser inerte, ou de um arco-íris um muro cinza, não precisaria passar pelo incômodo de encontrar tantos sorridentes pelo caminho vangloriando-se e tentando vender seu estado pra frente e feliz. Os espíritos elevados resolvidos e alegres deveriam prestar mais atenção a monotonia monocórdia monológica. Acontece que para quem é resolvido, segundo os manuais de ajuda per si, todas as cores e até a ausência delas contêm beleza. Se a chatice te incomoda tanto, talvez seja melhor cuidar de alguma falsa alegria instalada no rosto.

Assim termino sem muito desenvolvimento. Afinal o objetivo pensado desta fala gráfica já foi atingido com a manifestação crítica de um humor atarracado e de senho em riste.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Gripe econômico-individual

A contaminação – Se dá pelo nascimento do indivíduo como cidadão. A partir do momento que o ser até então humano recebe uma identificação econômico-governamental, o contato direto com qualquer sistema econômico torna-se dispensável. O contágio nos casos de isolamento de indivíduos identificados se dá pela sua participação em listas ou estatísticas.
A doença – Dá ao número-pessoa uma possibilidade maior de sobrevivência. Este fato inicial acontece porque o ser antes natural já não representará riscos através do desconhecimento da sua existência para o meio econômico-global. A seguir, através de peneiras sucessivas e incesssantes, os número-pessoas são descartados por não contribuirem para o status quo, ou alimentados para participar das seleções de resistência até que poucos representem o símbolo econômico-ideal. Por ser um vírus instalado há muito tempo, a doença só se extingue através da deleção do número-pessoa. O maior risco identificado até agora é a extinção dos indivíduos naturais através da contaminação incontrolável dos número-pessoas.
A diagnose – Quase podemos afirmar que esta crise é só uma gripe do grupo senso-comum e do tipo econômico-individual que por séculos é mal tratada. Os sintomas para a identificação são a utilização do ícone bode-expiatório, a preservação dos símbolos econômico-ideal e a verborragia sobre as possibilidades de utilização do mesmo sistema.
Não é possível afirmar que a cura não seja possível através da extinção do sistema econômico-global como referência e a utilização de outros conceitos como primeira conduta.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A identidade reflete a realidade

Em 2010 saberemos como é nascer americano. Finalmente nosso país se consolidará como a maior potência da américa do sul e uma das maiores do hemisfério sul. Nosso presidente será mundialmente reconhecido como o representante da nova ordem social. Teremos uma mulher eleita para presidir o país a partir de 2011. Nossos vizinhos fornecerão a mão-de-obra barata suficiente para que possamos circular mais pelas nossas belezas naturais.
Os brasileiros farão pouco caso de países com escassez de riquezas como petróleo, minerais, madeira e água. A realeza dos burgos estabelecidos pelo mundo todo pagará fortunas para beber água de côco em algumas de nossas praias. A pobreza da nossa vida receberá um toque mais pitoresco, transformando favelas em comunidades típicas, com culturas tribais de raízes culturais diversas. Nosso comportamento, nossa poesia, nossa música e nossa alegria receberão uma belíssima padronização, a fim de não confundir nossa diversidade com desorganização.
Quando o calendário marcar o ano de 2020, sem que tenhamos percebido, já não seremos o Brasil que hoje não conhecemos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vala comum

Primeiro de Maio e Dia do Trabalhador são como juntar num mesmo balde o trabalho e a dor. Sem delongas e análises profundas creio que posso fazer deste comentário o balde que mistura o homem e o açoite.

Se fosse possível para quem emprega fazer produção com o labuteiro, a briga pela excelência em manufatura nos transformaria em máquinas automáticas. Se não somos mais robotizados é porque esta é uma limitação humana. Sob altas pressões quebramos e exigimos manutenção cara. Sem contar que o acúmulo de mão-de-obra junta muita sujeira.

Ou alteramos a forma de fazer o que precisamos para viver bem suprimindo a dor de fazer o que supostamente é bom através da produção em excesso, ou morreremos sem saber que como animais isto que temporalizamos não pode se chamar de vida.

Não quero cair na vala comum de confundir a prazerosa ação de fazer coisas, que é dignificante, com a lamuriosa pecha de nomear exploração e alienação como trabalho.